Há exatos 10 anos, o Brasil perdia Mário Covas Junior ou simplesmente Mário Covas, co-fundador e primeiro presidente do PSDB.
A morte do governador Mário Covas, depois de dois anos de luta contra o câncer, emocionou São Paulo e todo o Brasil, em 06 de março de 2001. Covas, que tinha 70 anos, sempre cumpriu uma trajetória de empenho obstinado pelo bem comum. “Ele fará uma falta imensa”, afirmou o então presidente Fernando Henrique Cardoso, em entrevista exclusiva ao Estado de São Paulo.
Em depoimento exclusivo, ajudante de ordens relata momentos finais da luta de Covas contra o câncer:
Geraldo Alckmin, governador de São Paulo
"O Mario Covas era um homem que tinha apreço pela democracia porque tinha respeito pelas pessoas e pelo povo. Ele era, às vezes, bravo. Eu me lembro que uma vez, chegando ao gabinete, ele governador, eu, vice, e a dona Ana, a secretária, falou para o Mario Covas: ‘Como o senhor está bem-humorado!’. Ele olhou assim para ela e disse: ‘Não conte para ninguém’. Às vezes, também revia suas posições. Eu fui eleito presidente do PSDB de São Paulo, e o Covas tinha apoiado a Zulaiê Cobra Ribeiro. Veja o que é um homem magnânimo, porque eu não tive o apoio dele, ganhei a eleição e depois ainda virei vice-governador dele duas vezes. Eleito presidente do diretório, fui ao gabinete dele. Tinha lá um jornal pregado na parede: ‘Covas derrotado’. Falei: ‘Olha senador, me dê tempo, e o senhor vai ver que eu serei um presidente do partido’. Três semanas depois, fizemos um almoço para arrecadar fundos para o PSDB. O Covas e a dona Lila foram os primeiros a chegar."
Aécio Neves, ex-governador e senador do PSDB por Minas Gerais
"Mário Covas não se preocupava com circunstâncias, mas com convicções. Ou era admirado ou era temido. Tem um episódio muito marcante na minha vida com o Covas, quando, em 2000, eu tentei fazer uma aliança para me eleger presidente da Câmara. Eu achava que era hora de o partido assumir a presidência da Casa. Mas eu não tinha o apoio do governo, que queria preservar a sua aliança com o PFL. Decidi então ir a São Paulo, falar com o governador. Disse a ele: governador, eu tenho condições de disputar. Ele me perguntou: ‘Você acha que tem chance? Tem os votos? Então dispute’. Numa sexta-feira, já doente, Covas pegou um avião e foi a Brasília. Entrou na sala da liderança, abraçando todo mundo, e disse: ‘E por que é que o PSDB não pode ter a presidência da Câmara? Pode sim. Aécio é nosso candidato’. Eu ganhei a eleição à presidência da Câmara por causa do Mário Covas."
José Serra, ex-governador de São Paulo
"Na minha memória, a cada ano que passa, o Mario Covas se torna maior e melhor. Vão ficando seus atributos essenciais: a coragem de defender suas ideias, a dedicação à vida pública, a integridade pessoal. Lembro com carinho do Mario. Eu o conheci em Santos quando eu era presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) e ele, deputado recém-eleito, pela primeira vez, antes do golpe de 1964. Só o revi quando voltei do exílio, no final dos anos 70. Passamos a conviver e batalhar sempre do mesmo lado. Cada um apoiou o outro nas vitórias e derrotas. Devo a ele ter sido relator de vários capítulos importantes de nossa Constituição. O Mario era esquentado. Em comícios, mais de uma vez, ajudei a segurá-lo quando ele se dispunha a descer do palanque e partir para a briga, quando alguém gritava ou exibia algo ofensivo, alguma baixaria. O Mario Covas não tinha casca grossa para absorver ofensas pessoais, o que é incomum entre os políticos."
Bruno Covas,secretário do Meio Ambiente do Estado
"Meu avô fazia política 24 horas por dia, sete dias por semana. Em 1995, vim morar com ele em São Paulo para estudar e acabei acompanhando-o nos seis anos de governo. Foi uma grande experiência, que nos aproximou. É impressionante o fato de que em um país como o Brasil, onde ser político muita vezes significa somente coisas ruins, ele ainda seja tão lembrado dez anos depois de sua morte. Muitas pessoas, quando contam histórias dele, se emocionam. Se a gente for ver tudo o que ele fez, muito mais do as obras e outras realizações, ficaram os exemplos. O grande sonho dele era construir uma ponte para reduzir a distância entre ricos e pobres. Uma vez, nas férias, cheguei em casa de madrugada, fazia muito frio e ele estava acordado. Perguntei, de brincadeira, se ele havia perdido o sono. ‘Como você consegue dormir sabendo que há tanta gente que não tem onde morar?’, foi a resposta que deu."
Imagens
Em junho de 1988, Mario Covas foi um dos fundadores do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e, alguns meses depois, seu presidente nacional. |
Abertura oficial da campanha à presidência da República, em 1989. |
Na década de 90, eleito Governador duas vezes. |
Um homem sempre determinado |
A coragem com que enfrentou a doença conquistou admiração de todos. Um mês antes de morrer, ele agradeceu ao povo pelas orações. |