Depois de unificar o PSDB em torno da sua candidatura, José Serra começa a pavimentar o caminho rumo ao seu objetivo: liderar o Brasil na era pós-Lula
Por Fábio Portela, na VEJA:
Ungido há menos de dez dias candidato oficial do PSDB à Presidência da República, José Serra não poderia encontrar ambiente mais propício para iniciar sua campanha. Duas novidades contribuem para isso. A primeira é que os tucanos estão animadíssimos - o que havia muito tempo não ocorria. Desde 2003, quando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso colocou a faixa presidencial no pescoço do petista Luiz Inácio Lula da Silva, os militantes do PSDB passaram a amargar uma espécie de fossa de fundo existencial. A saída do poder jogou o partido numa crise de identidade em que ninguém sabia ao certo que bandeiras defender ou que líderes seguir. Na semana passada, o PSDB parecia ter reencontrado o seu eixo. Ao barulhento lançamento da candidatura de Serra, acorreram mais de 6 000 militantes do partido. Vindos de todos os estados, carregavam bandeiras, espremiam-se uns contra os outros e cantavam sem parar no amplo auditório alugado pela sigla. A maioria usava camisetas nas cores azul e amarelo, algumas com inscrições como “temos orgulho do que criamos”. Era um clima diametralmente oposto ao registrado nos últimos encontros do partido. O motivo da animação é que o PSDB, finalmente, tem um projeto definido, aprovado e defendido por todos na sigla: eleger José Serra presidente da República. E eis aí o segundo elemento a pavimentar o caminho de Serra nessa campanha. Seu partido vai unido para a briga. E isso, tratando-se de PSDB, é outra grande novidade.
O próprio Serra é o maior responsável pela unificação do partido. Nas duas últimas eleições presidenciais, o PSDB marchou dividido. Em 2002, a primeira candidatura de Serra à Presidência só se consolidou ao custo de engalfinhamentos com tucanos diversos, como o ex-ministro Paulo Renato e o senador Tasso Jereissati. Em 2006, Geraldo Alckmin foi o escolhido - mas também só depois de emparedar Serra e toda a cúpula de seu partido. Essas contendas internas costumavam causar fraturas que custavam a cicatrizar. Como resultado, cada um remava para um lado e o barco tucano não saía do lugar. Desta vez, a situação é outra. Serra impôs sua ascendência de forma natural. Depois de passar pelo governo Fernando Henrique, pela prefeitura e pelo governo de São Paulo, ele é hoje reconhecido por seus pares como o mais preparado entre os tucanos para enfrentar o desafio de presidir o país. O ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves, que também sonhava em se lançar na disputa pelo Planalto, abriu-lhe passagem, no fim do ano passado, num gesto maduro e generoso. Na festa de lançamento de Serra, foi Aécio o autor do discurso mais inflamado do dia em defesa do candidato. Os tucanos que ainda sonham ver o mineiro candidato a vice-presidente na chapa do partido quase levitaram.
No discurso com o qual se lançou, Serra refutou a narrativa petista de que o Brasil só começou a ser construído em 2003, com a chegada de Lula ao poder. Disse que o momento positivo que o Brasil vive hoje se deve às conquistas obtidas por toda a sociedade desde o fim do regime militar, sobretudo à Constituição de 1988. Criticou a política externa brasileira e a sua inclinação para sustentar regimes autoritários, como os de Cuba e do Irã, e reservou boa parte da fala para condenar a estratégia petista de estimular uma disputa entre pobres e ricos na sociedade. “Não aceito o raciocínio do nós contra eles. Não cabe na vida de uma nação. Somos todos irmãos na pátria. Lutamos pela união dos brasileiros, e não pela sua divisão”, disse. O tucano também criticou o modo petista de governar, abrigando apaniguados em todas as engrenagens da máquina pública: “O Brasil pertence aos brasileiros que não dispõem de uma ‘boquinha’, que exigem ética na vida pública porque são decentes, que não contam com um partido ou com alguma maracutaia para subir na vida”. Aqui
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