quinta-feira, 13 de maio de 2010

Crônica de 88 licitações não anunciadas

Uma administração não é avaliada pela quantidade de acertos e sim pelo número de erros. O atual governo tem cometido mais erros que acertos e por isto é mal avaliado.
Não elide a responsabilidade política da governadora o fato de uma falta ser cometida em uma secretaria: permitir que 88 obras fossem feitas sem licitação é tão absurdo que se torna anômalo.
Cobria-se de razão a ex-secretária Socorro Coelho quando se negava a pagar obras sem processos licitatórios. Nesta eventualidade, menor mal foi negar pagamento: a gênese da loucura se fez na origem da peça.
Ainda na gestão da secretária Bila Gallo, reuniram-se os mentecaptos do governo e alguém teve a idéia de providenciar reformas de escolas.
No açodado afã de cortar fitas, foram providenciados lotes de obras para empreiteiros.
O informal critério destas escolhas envolveu vários empreiteiros e agentes que os coordenaram: feita ao arreio da lei, as escolhas se poderão configurar em crime de formação de quadrilha.
Aos empreiteiros foi prometido pagamento certo e cobrada celeridade pois o governo precisava de realizações: assim começou a história das 88 escolas reformadas sem licitação.
Os empreiteiros endividaram-se para fazer as obras e não tiveram o expedito pagamento acertado, o que lhes resultou em um estoque de dividas que teve como consequência a paralisação das obras.
Desgraça pouca bobagem é: Bila Gallo desalojou-se da SEDUC, atropelada pela inconsequência dos kits escolares.
Em paralelo, a Auditoria Geral do Estado, AGE, realizava fiscalização na SEDUC, onde detectou, dentre outras irregularidades, as 88 obras sem cobertura licitatória, recomendando, em relatório conclusivo, o não pagamento reclamado.
Quando Socorro Coelho assumiu foi este um dos imbróglios que encontrou: acostava-se à trama a pressão para pagar o convescote daqueles que cometeram a algazarra.
A pressão se intensificava à medida que o desespero dos empreiteiros aumentava: alguns deles recorreram a empréstimos para saldar compromissos assumidos com o mercado.
Um dos emprestadores, no afã de usar as suas singulares prerrogativas para receber o dinheiro, acompanhou seus devedores à secretaria e tentou enquadrar a secretária: sem sucesso.
O caldo de um escândalo anunciado chegou ao ponto da fritura com a entrega das auditorias realizadas pela AGE à Assembléia Legislativa.
No meio das caixas está o relatório consubstanciado das 88 obras ilícitas, com as respectivas empresas que as cometeram: a maioria não vale o quanto cada uma pesa.
O governo deu um nó nas próprias pernas e soldou as pontas na inconveniência dos incautos que protagonizaram tamanha adolescência administrativa.
Tudo o que o governo fizer daqui para frente, para tentar remediar o que não preveniu, será apenas uma emenda de pé quebrado aos versos de um soneto de triste fim.

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