sexta-feira, 7 de maio de 2010

O POVO É SEMPRE O CULPADO!

Resultante de uma convenção tácita, entre alguns governantes e membros da sociedade, atribui-se ao povo a culpa por tudo o que acontece de ruim na cidade, de tal modo que o entupimento de canais e bueiros, causas de alagamentos, o acúmulo de lixo, e até a impunidade incentivadora da criminalidade, da violência e da corrupção, em todas as instituições, nos três níveis de governo, é de exclusiva responsabilidade do povo que assegura a eleição e a reeleição de políticos, quase sempre descompromissados com a sorte da população.
Porém, a verdade, tal como o sol, às vezes obscurecido por nuvens negras, termina prevalecendo sobre a mentira e, por isso, os que responsabilizam o povo pelas ocorrências tristes na vida da nação, justificam-no pela falta de educação, confirmando o velho adágio popular: “a corda sempre quebra no lado mais fraco”.
Em virtude dessa costumeira atribuição de culpa, iremos desenvolver ao longo do texto, alguns argumentos e, você, após submetê-los à análise lógica, irá julgar o grau de culpabilidade atribuída ao povo, nesse antigo processo de violação às normas estabelecidas nos diversos códigos, para disciplinar as relações dos cidadãos entre si, com os seus governantes e com o Estado.
Começaremos lembrando que o Estado, na sua feição moderna, surgiu a partir de um “contrato Social”, no qual a maioria da população, ao delegar competência para um grupo menor, renunciou a uma parcela dos seus direitos e da sua liberdade, em favor do todo, em troca de segurança e paz, emprego e educação, enfim, crescimento pessoal, na direção da felicidade.
Inicialmente, cumpre recordar que a educação é o único recurso capaz de igualar as condições entre os homens e de garantir a sua libertação, portanto, o adulto sem a devida formação educacional, vai atuar na vida civil tal uma criança, que não sabe distinguir, com precisão o certo do errado, especialmente no campo da normatividade social e, daí, jogar lixo, cuspir e urinar na via pública, estacionar veículos sobre a calçada, comportamentos que por serem permissíveis, parecem normais.
Ao condenar Jesus, o povo claramente demonstrou que segue sempre a voz do seu pastor e que, no ato de escolher os seus representantes, não está preparado para eleger candidatos comprometidos com os ideais da república, porque ao longo de sua vida, não recebeu dos seus governantes, através do processo educacional, a capacidade de separar o joio do trigo e a recusar uma ação inconveniente, embora permitida em lei.
E os governantes de tendência totalitária, esquecidos que é de seu dever amparar os mais fracos e criar políticas públicas propícias ao desenvolvimento dos talentos dos seus jurisdicionados, promovem ações populistas e distribuem esmolas, para mantê-los sempre dependentes, afinal, no entender de Voltaire, “o tirano deseja comandar tolos, porque acredita que os burros obedecem melhor que os demais”.
Então, nesse cenário caótico em que o governo governa sem educar e ordena sem liderar, porque não tem autoridade moral, não há como persuadir o povo a obedecer a lei nem fazer a melhor escolha, na hora de votar, e o resultado é que cidadãos com os atributos morais e intelectuais de um Nicias Ribeiro, ficam de fora do Parlamento, com graves prejuízos à Democracia.
Ademais, cumpre ressaltar que silenciar diante de certos acontecimentos na vida pública, equivale a um verdadeiro crime e, o que temos assistido, à exceção de alguns setores da imprensa e de alguns articulistas, é a passividade de alguns parlamentares com atos praticados por integrantes do Executivo, que agem como se estivessem na Venezuela de Cháves.
Por fim, resta evidente que, enquanto não tivermos governantes dispostos a investirem na educação, a promoverem adequado planejamento familiar e até mesmo um rígido controle da natalidade, a iniciar-se nas cadeias públicas, a adotar políticas geradoras de emprego e renda, iremos sempre conviver com uma população constituída de barrigas esfomeadas e ladrões ávidos. E triste reconhecer, mas é preciso dizer que na educação está o nó, e terrível é o governo que do seu povo não tem dó.
(JOÃO JEREMIAS CHENE - Economista, contador, ex-Professor Substituto de Direito Penal da UFPa, escritor e Auditor Fiscal de Receitas Estaduais).

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