Eduardo Graeff, 08/06/11
A oposição não deve perder o foco sobre os negócios de Antonio Palocci. E o foco é, claramente, a campanha presidencial de Dilma Rousseff.
Tudo o que o governo, Lula, o PT e o próprio Palocci gostariam é que a discussão fique na carreira de Palocci como consultor. Tudo o que eles querem evitar é o cruzamento da lista de clientes da consultoria de Palocci com a dos doadores da campanha de Dilma. É essa a casa de marimbondo em que o procurador-geral Roberto Gurgel não quis botar a mão, mas que o Ministério Público do Distrito Federal pode abrir.
Na entrevista ao Jornal Nacional, Palocci desconversou mas confirmou um fato básico e entregou outro. Confirmou que sua consultoria faturou R$ 20 milhões em 2010, como revelado pela Folha. Entregou que no ano anterior o faturamento foi 20% a 30% disso. Ou seja, de um ano para o outro ele multiplicou sua receita entre três e cinco vezes.
Que é que explica esse pulo? O que fez aumentar tanto, tão de repente, o interesse pelos conselhos de Palocci? Não, com certeza, sua condição de ex-ministro da Fazenda. A explicação óbvia é sua entrada na coordenação da campanha de Dilma. Função para a qual ele foi escalado por Lula no fim de 2009 e começou a desempenhar no começo de 2010, como a Folha noticiou na época e eu anotei aqui.
Quem tem alguma noção das coisas sabe que coordenar uma campanha presidencial é um trabalho de 24 horas x 7 dias por semana. Não há hipótese de conciliar isso com a quantidade de horas que um consultor regiamente pago teria de trabalhar para faturar, não digo os R$ 20 milhões de 2010, mas os mesmos R$ 4 milhões a R$ 6 milhões que Palocci teria feito no ano anterior.
Mas Palocci não foi obviamente remunerado pelo seu tempo, e sim pelo prestígio, não de ex-ministro, mas de coordenador da campanha presidencial e provável futuro ministro.
Quem o pagou não estava necessariamente comprando favores específicos do governo Lula, mas acesso privilegiado ao governo Dilma.
Palocci pode até pensar que a bolada foi merecida, como uma compensação antecipada por abrir mão de sua carreira de consultor, se Dilma fosse eleita e ele virasse ministro, como acabou acontecendo. Ou/e como uma espécie de comissão pelos serviços de arrecadador que possa ter prestado à campanha.
E Lula? E Dilma? Caíram das nuvens? Nada disso lhes passou pela cabeça quando escalaram Palocci como seu embaixador pleniponteciário junto ao empresariado?
Palocci, no Jornal Nacional, garantiu que Dilma não sabia de nada.
Fica combinado assim - entre eles.
Entre nós, a combinação só pode ser a seguinte: o papel da oposição é ir atrás da verdade, por mais incômoda que seja para o governo e seu partido. Sem perder de vista que todos os indícios da verdade apontam para a campanha de Dilma.
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